
"Pois sei que em termos de nossa diária
_e permanente acomodação
resignada à irrealidade_
essa clareza de realidade
é um risco."
(Clarice Lispector)
A vida, este período de existência consciente cedido a cada ser humano, é uma viagem, que tem origem, trajetória e destino.
Isso é certo. A questão que se coloca, será sempre, como, enquanto protagonistas, iremos administrar este conjunto de experiências, de dons, afetos, projetos, capacidades múltiplas , que podemos, ou não, tomar posse, a nosso favor, porquanto serem nossas, por direito, adquiridos, ao nascermos dotados desta maravilhosa dádiva divina, que é a opção responsável, o livre arbítrio.
Os caminhos que se apresentam são muitos, variados.
Cada pessoa nasce inserida num determinado contexto, que será preponderante em sua formação, na aquisição da bagagem necessária, fora isso, o acaso, o improvável, que é sempre possível.
Poderemos sempre desperdiçar esta oportunidade de existir, de viver, de sonhar, de realização, de solidariedadedade, de alegria . Porque tudo isto faz parte do "pacote", juntamente, com a tristeza, a frustração, o egoísmo, a intranquilidade...
A equação parece-me simples. a "viagem" é obrigatória, a escolha do "meio de transporte", ao meu ver, é que será determinante da qualidade desta aventura. Podemos sempre optar por um mercedens benz, ou....
O investimento de interesse e aplicações emocionais e racionais nas vias de passagem, que é existir numa terra vasta, com paisagens surpreendentes, armadilhas, mas também com recompensas nem imaginadas.
Podemos analisar, ver, descobrir.
Podemos ser honetos e abertos, não nos corrompermos por mediocridades e covardia. E assim, inventarmos rotas mais compensadoras pela nossa dedicação, pela nossa opção no investimento.Não se volta atrás, o "combustível", o tempo só conhece um sentido.
Não se refaz, mas, sempre, sempre, podemos revisitar, recomeçar, pelo aprendizado, nos erros, nos acertos..
Entretanto, por vêzes, somos péssimos passageiros...em lugar de investir, roubamos; em lugar de cuidar, negligenciamos; em lugar de usufruir, jogamos fora o bem maior de nossas almas.
Mas, poderemos sempre fazer este "upgrade"existencial (essencial), para chegarmos a bom porto, com a tranquilidade e a certeza de termos feito boa viagem, pois que a vitória estará sempre nisso mesmo, e a felicidade, esta, é o caminhar em si, enquanto seres humanos completos na sua complexidade, complementares na sua natureza, finitos na matéria, mas eternos pelas marcas deixadas ao longo do caminho.
2 comentários:
"Não sei qyantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi, nem acabei..."
(Alberto Caeiro)
Lili
...e essa acomodação advém(?) da procura de um lugar cómodo, refúgio para o exercício do não questionamento,um lirismo , luxo esse que nem sempre nos podemos permitir, sob o risco de continuar a pisar no limbo da indefinição.
Ser realista, é ter coragem para enfrentar a desilusão, a decepção, a surpresa,em suma, a verdade, entidade por demais procurada, mas bastas vezes longe do alcance dos comuns mortais.
Desejar a verdade, é também saber aceitar o deslize,a imperfeição, os percursos feitos no irreal.
Para ser verdadeiro não tem que se ser cruel.Para ser directo não tem que se usar fel.
Nada é ,nem deve ser absoluto, pois tudo na vida são frutos ainda ver de intenções preferencialmente boas, que em nuances de maior ou menor intensidade, crescem mais ou menos, e singram na árvore da esperança,espaço esse onde a dúvida se entrecruza com a imprecisão,e hesita até amadurecer, estar pronto para...
Será que não precisamos d'um pouco de ambas para sobreviver num equilibrio consciente da existência de ambas as (ir)realidades?!
Ou será que a verdade, por monótona, se poderá tornar em algo assustadoramente rotineiro, logo, desinteressante?
Poderão os sonhos ser manifestações subconscientes duma forma diferente de realismo.
Porque sempre queremos lembrá-los de forma o mais rigorosa possível? E para quê?
Poderemos admitir e assumir com tanquilidade que, porventura, é porque são realidades que esperavamos ver concretizadas?
E onde fica o DESEJO no meio de tudo isto...?
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